O Sentido Teologal de Carregar a Cruz

  • Mc 8,34:” (...) Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.”
    Ao dizer: “Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” Jesus nos dá a entender ser sabedor de que o desfecho de sua missão o conduziria à morte de cruz, por isso três versículos antes Ele fala abertamente sobre sua paixão (vv. 31-32). As palavras dele nos exortam à renuncia total de si mesmo em nome do Evangelho e não um entusiasmo passageiro ou uma dedicação momentânea. Carregar a cruz é abdicar da vida terrena a qual é transitória permutando-a pelos bens vindouros em busca da definitiva vida celeste. “Tudo isso, que te preocupa de momento, é mais ou menos importante, o que importa acima de tudo é que sejais feliz, que te salves” (Caminho, nº297).
  • Essa exigência de que resignemos a vida presente fica mais marcante no próximo versículo onde Ele diz: “Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á” (Mc 8,35).
    No texto original e na neo-vulgata o termo “vida” está escrito literalmente ”alma”. Mas neste, como noutros casos “vida” e “alma” são equivalentes.
  • A frase do Senhor tem um sentido paradoxal, quem desaceitar sua vida (terrena) receberá o galardão da vida (celeste) e quem preferir sua vida (transitória) perderá sua vida (eterna). Salvar a vida terrena significa viver como se tudo findasse aqui na terra deixando-se dominar pelos frutos da carne, pelos desejos dos olhos e pela soberba (1Jo 2,16), por contraposição entende-se o renunciar dessa vida limitada “buscar as coisas lá do alto” (Cl 3,1) como tomar sua cruz em prol do reino dos céus.
  • 1Co 1,18: “A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina”, “Eis o madeiro da Cruz, no qual foi crucificado o Salvador do mundo” (Missal Romano, Celebração da Paixão do Senhor).
  • Compartilhar os fardos do próximo e os de Cristo é a nossa coparticipação na Via Sacra e consequentemente a nossa imersão no amor de Cristo.
  • “Na paixão, a Cruz deixou de ser símbolo de castigo para restabelecer-se em sinal de vitória. A Cruz é o emblema do Redentor, in quo est salus, vita et ressurrectio nostra, ali está a nossa salvação, a nossa vida e a nossa ressurreição" (Via Sacra, II, nº 5).
  • Como diz São Paulo, o amor de Cristo nos constrange (2Co 5,14), constrangidos por esse amor sacrificial peregrinamos nos aprofundando na caridade através da Igreja. Esta, como diz as Escrituras, é guardiã da verdade (1Tm 3,15) a qual juntamente com o amor está em unidade indesatável (1Co 13,6). É a verdade da Cruz que nos remete a mais profunda caridade. No caminho sacro, um certo homem chamado Simão de Cirene foi constrangido a carregar a Cruz de Cristo como diz São Marcos e São Lucas (Mc 15, 21; Lc 23, 26), estes dois evangelistas afirmam que Simão "passava, vindo do campo" (Mc 15, 21; Lc 23, 26) o que pode significar que ele vinha naquele instante diretamente de Cirene para a celebração da Páscoa Judaica.
  • Ao se deparar com a páscoa eterna, Simão participou também do momento em que a lei finda e passa a ser caridade, ou seja, a Nova Aliança do amor é a plenitude da Antiga Aliança da condenação e como diz São Paulo, Cristo nos trás uma nova lei e portanto uma nova economia.
    Gl 6,2” Ajudai-vos uns aos outros a carregar os vossos fardos, e deste modo cumprireis a lei de Cristo.”
  • Paulo Leitão De Gregorio

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“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou o coração humano, o que Deus tem preparado para aqueles que O amam.”

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